Cristãos Anônimos

08 dezembro, 2012



A cultura humana está encharcada pela busca da auto promoção e da fama, desde a mais tenra idade somos estimulados à busca pelo sucesso. Nos últimos dias a busca pela fama entra nos círculos evangélicos provocando os devidos estragos. Como falo para cristãos espero que  o pensamento sobre a fama e sucesso possa ser compreendido como algo prejudicial e nocivo ao cristão.

A vida contém períodos de solitude e recolhimento. Paulo, o grande apostolo dos gentios, passou um período recluso em lugares desertos a fim de meditar e digerir as visões e mudanças que ocorreram na sua vida desde que se encontrara com o terrível Cristo ressuscitado, o qual o chamara para padecer por amor do seu nome. O mais interessante na carreira de Paulo é que o mesmo não alcançou o status de notável apóstolo de maneira instantânea, mas foi alcançado após um longo período de aperfeiçoamento e refinamento segundo a graça de Deus.

Um dos primeiros pontos a se observar sobre a trajetória de vida e o pensamento de Paulo é que o mesmo acreditava que qualquer cristão (notável ou não) era apenas produto da abundante graça de Deus, nada mais, ou seja, não há méritos humanos dentro da perspectiva da graça. É nessa realidade que o sucesso e a fama desejada pelos corações humanos devem desaparecer. 

O apóstolo Paulo foi sem dúvida uma grande ferramenta da graça de Deus, não se pode negar isso, e não podemos negar que o mesmo teve o prazer de ter tido sua história de vida eternizada nas páginas das Bíblia Sagrada. Mas o que dizer dos milhares de cristãos que viveram e morreram pelo Evangelho, sem que ao menos se ouvisse os seus nomes? O que dizer dos cristãos que o único e último momento glória diante dos homens foi ter seu nome pronunciado pelo algoz ante a sua execução em uma arena numa guilhotina?

Infelizmente os ensinamentos da "teologia da prosperidade" que tenazmente assediam os cristãos em todo o mundo acabam sucumbindo diante dessas perguntas, tendo em vista que a mesma não concebe que um cristão verdadeiro  possa vir a sofrer dessa maneira. Oferece um evangelho que enfatiza as obras e despreza a graça, coloca o homem como o centro e Cristo como nosso mordomo. Relativizam as Escrituras a tal ponto de descaracterizá-la. Infelizmente o "cristianismo" do sucesso e da fama terá seu espaço por algum tempo, até que a heresia e a mentira corroam sua doutrina tornando-a ainda mais pálida e desfigurada. 

Resta aos que ainda se lembram do valor e da responsabilidade de carregar a mensagem da graça de Deus, que mantenham firme a confissão e a pregação do Cristo crucificado, da graça suficiente e gratuita. Mesmo que seus nomes sequer sejam mencionados entre os círculos evangélicos mas que Cristo conhece o trabalho e o compromisso que há dentro de cada coração que foi achado pela sua maravilhosa graça.

Deus nos abençoe!

Referências

FOXE, John. O livro dos mártires. Ed. Mundo Cristão. São Paulo. 2003. 


A assombrosa humanidade de Cristo

01 dezembro, 2012



O cristianismo possui em um de seus pilares uma doutrina interessante, na qual o Deus criador se acha em forma em humana afim de redimir os pecados da sua criação. Esse ensinamento geralmente é visto rapidamente pelos cristãos, mas quando analisado cuidadosamente provoca espanto, pois revela diversas características do Criador se identificando com sua criação de uma maneira totalmente diferente.

Na teologia, o fenômeno no qual Deus em Cristo se torna homem é chamado de kenosis, de origem grega a palavra significa "esvaziamento", e foi utilizada no texto de Paulo aos Filipenses 2.7 com o sentido de que Cristo deixou alguns atributos da sua divindade.

Ao se falar de "Deus na Terra", temos que falar um pouco sobre um sentimento muito interessante, que está presente na estrutura humana desde os períodos mais antigos, o numinoso. Segundo C. S. Lewis, em O problema do sofrimento, o sentimento do numinoso não está relacionada ao medo, mas numa mistura entre a reverência e o pavor ao invisível. O ser humano sempre se viu rodeado de uma imensidão e perigos, sempre pensando que o universo fosse permeado pelo sobrenatural.

Tratando-se dos judeus, temos o Monte Sinai com terremotos e trovões, e sendo "assombrado" pelo que chamaram de "Senhor justo, que ama a justiça". Nesse caso, além do sentimento de reverência, existe o senso moral atribuído a ele, o que o torna uma entidade que exige moralidade dos que com ele se identificam.

A humanidade de Cristo chega a ser espantosa, pois demonstra que o próprio Deus esteve entre os homens e pregava uma mensagem muito peculiar, que ia desde uma ética estranha até predições sobre o futuro. O que mais chama a atenção, também, é que além de vir ao mundo Jesus experimenta o escárnio e a morte, e morte de cruz.

Essa mensagem, como disse Paulo, é loucura para os gregos e escândalo para os judeus, mas para nós é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.


Referências

LEWIS, C. S, O problema do sofrimento, Editora Vida, São Paulo, 2006.