Virgens dormindo com lâmpada. 1838-42. Por Friedrich Wilhelm Schadow |
Mateus 25.1-13:
Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco dentre elas eram néscias, e cinco prudentes. As néscias, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas juntamente com as lâmpadas. Tardando o noivo, toscanejaram todas e adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! saí ao seu encontro. Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. Disseram as néscias às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Porém as prudentes responderam: Talvez não haja bastante para nós e para vós; ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós. Enquanto foram comprá-lo, veio o noivo; as que estavam apercebidas, entraram com ele para as bodas e fechou-se a porta. Depois vieram as outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. Portanto vigiai, porque não sabeis nem o dia nem a hora.O casamento na palestina
O casamento na palestina é repleta de rituais e de significados, dessa forma o casamento possui detalhes importantes para o significado utilizado por Jesus. O casamento dos judeus possuía basicamente e resumidamente dois momentos distintos, o primeiro, chamado de noivado e o segundo que era uma cerimônia com benção religiosa, o primeiro momento tinha peso civil, ou seja, os pais da noiva e o noivo realizavam um tipo de contrato para confirmar o compromisso entre as partes, podendo haver a escolha. A segunda parte consiste em uma cerimônia festiva para a benção religiosa e consumação do contrato de casamento e por fim a conjunção carnal.
A cerimônia religiosa, no caso de Mateus 25 citado por Jesus, possui alguns elementos interessantes, primeiramente a noiva ficava na casa dos pais aguardando a chegada do noivo. A chegada do noivo é precedida por virgens que participam anunciando o noivo. As anunciadoras iluminavam o caminho para a chegada do noivo através de lâmpadas de azeite.
Ao chegar na casa, ou no local onde a noiva se encontra, então as virgens anunciadoras entrariam para participar da cerimônia festiva com os familiares e os noivos.
Os elementos da parábola
Jesus destaca na parábola a existência de elementos civis e religiosos no casamento, de maneira que ao descrever a parábola Jesus explica que existem dez virgens anunciadoras. Ao se apresentar nas proximidades do local em que a noiva se encontra, as virgens anunciadoras estariam distribuídas no caminho com lâmpadas afim de iluminá-lo. As que desempenham o papel legitimamente poderiam participar da festa com os noivos. Jesus fala sobre a existência de virgens descuidadas, ou néscias, de maneira que em contraste com as sábias não levaram combustível extra para aguardar a chegada do noivo. O próprio Jesus se identifica como o noivo em Mt. 9.15.
Na Interpretação histórica de Agostinho, ele analisa a parábola e observa características do caráter das virgens, da castidade, da interpretação dos objetos, do azeite extra entre outras coisas. A análise de Agostinho tende a tomar um viés alegórico da parábola, com o propósito de encontrar um segundo significado na parábola.
Ele entendia também que o sono e a falta de preparo eram fenômenos que poderia acontecer na vida dos cristãos e assim deveria existir o cuidado para não ser acometido desses males. A interpretação simbólica do óleo em reserva também era valorizado como uma virtude para os cristãos mais preparados. Kistemaker reforça a interpretação tradicional que a igreja seriam as virgens.
Alguns pontos não reforçam a interpretação tradicional, tendo em vista as características de cada personagem na parábola. Interpretar que as virgens são a igreja, como os eleitos e os reprovados, seria incorreto, tendo em vista que o casamento não ocorre com elas, e sim com o noivo e a noiva, que está aguardando a chegada do noivo em casa. O casamento como foi demonstrado acima ocorre com uma noiva e um noivo, não podendo ser realizado com cinco ou dez pessoas.
Conclusão
O propósito de Jesus na parábola era deixar claro a necessidade de vigilância durante o período que antecedia a chegada do noivo. Esse alerta de Jesus era claro para que ninguém fosse pego de surpresa quando o noivo chegar. Nesse sentido, essa era a mensagem central, não precisando de estender a interpretação aos demais símbolos, e mesmo que fosse feito, as dez virgens não poderia ser interpretada como os cristãos, pois a noiva estaria na casa dos pais aguardando a chegada do noivo.
Dessa forma, o entendimento da parábola que faz jus a cada personagem seria o de que todos aqueles que estão participando de um compromisso devem estar atentos e preparados para a chegada do noivo, sabendo que caso ele demore estaremos a postos e vigilantes para o recebê-lo. É basicamente esse ensinamento que Jesus deixa para os seus discípulos, e o limite que o texto permite que cheguemos.
Referências
Jane Bichmacher de Glasman. Amor, sexo e casamento no Judaísmo. Disponível em: <http://www.nea.uerj.br/nearco/arquivos/numero8/4.pdf>
Josemar Bessa. Disponível em: <http://www.josemarbessa.com/2009/07/as-dez-virgens-agostinho.html>
Simon J. Kistemaker. As parábolas de Jesus. Casa Editora Presbiteriana. p. 151. 1ª Edição. 1992.